Poemas


Á MULHER
Uma palavra para ti
Mulher
Neste dia
Em que a Primavera se inicia.
Quando a Natureza,
Contente de o ser,
Num colorido sorriso
Soberana!
Me sugere o tema
E alicia a escrever,
Com idêntica ternura
À que de ti emana,
Este poema.

Quisera eu
Ele fosse portador
Do matizado de cor,
Da fragrância
Das flores do jardim
À constância
Da tua eterna primavera
Sim, mulher,
Quisera!
(aula de psicologia  23.03.2011- s/ o dia da mulher (8-3)



Amor Frustrado
Esperar, esperar, como quem espera viver
Uma só palavra dela, um só sorriso …
E ela, alma descrente, sem juízo
Ignorante do quanto me faz sofrer

Mas porque gosto eu dela, se afinal
Nunca me prometeu o mais pequeno afecto?
Foi tudo um sonho, um sonho incompleto!
Sonhar fazer-me amar foi o meu mal

Mas, como custa enfrentar a realidade!
Abandonar o sonho belo, ilusório …
E sentir a solidão impiedosa!

Só num beco luxurioso da cidade
Num corpo impúdico, alugado, provisório
Eu esqueço aquela dama, aquela rosa


(Angola-1968)



Ao Abílio. Aniv.
Aos 8 era a roda, era o pião
Aos 18, eram as moçoilas. Depois, o definitivo amor
Aos 28, eram as filhas: companheiro, educador
Aos 38, era, talvez, o auge da carreira ascendente

Aos 48, “alargas-te” das filhas, tristemente
Aos 58, “alargas-te”, sem tristeza, da profissão
e
Aos 68, será que não voltas à roda e ao pião?


11 de Abril de 2008



Aos Políticos e Afins
Se eu
Num repente
Vos olho do alto, indiferente
Armado em bom, extraterrestre, marcial …
Atirem-me com tomates, não faz mal!
Fora com o pedante!

Se eu
Num instante
Me mostro muito humilde, suplicante …
Fingido altruísta, irmão da caridade,
Atirem-me com tomates, não faz mal!
Fora com o fingido!

E tu
Pela verdade
Peleja sempre meu amigo,
Não hesites! Faz o que te digo:
À vaidade, à falsidade e outras que tal
Atira sempre tomates, não faz mal
Fora com a hipocrisia!

E assim o mundo será melhor
Talvez… um dia!

(Aos políticos e afins)



Burocrata
Na profissão da minha vida
Em piruetas de louco
Carimbos, papel selado, autenticado
Dúvida permitida de ter feito pouco
De não ter passado passaporte
Para além do presente e do passado,
Norteando um outro norte
Certifiquei certificados legais
Registei nascimentos incógnitos de pais
Celebrei casamentos condenados ao seu fim
Preguei conselhos aos amores desamados
Derramei ternura em tímpanos de surdos
Incuti confiança, desconfiante de mim
Inquiri incumpridores depravados
Ora mentirosos, ora mudos
Arranquei-lhes confissões de duvidosa verdade
Iludi turistas para mares aquecidos
Indaguei indigentes, dei dinheiro
E, no aeroporto da cidade
A presidentes, ministros, partidários de partidos
Prestei falsa vassalagem por inteiro
Parcimoniosa gente, oh! muito intelectual… !
Dei identificação a páridas e distraídos
Cobrei emolumentos em dinheiro
Libertei mancebos de um futuro marcial
Conheci pais de muitos filhos
E muitos filhos da mãe
Gente afortunada, infortunada e falida.
Enredaram-me em sarilhos
Mas vivi gratas vivências também
Na profissão da minha vida

25 de Novembro de 2008


Vem aí a Primavera
Vem aí a Primavera
Ouvi-o da tua boca
Por muitas flores que dera
Para mim é coisa pouca

Chegou o Verão, já se vê
Descoberto no teu peito
Por muitos frutos que dê
Não me dou por satisfeito

Vem o Outono, adivinho
Vendo o teu cabelo ao vento
Nem as castanhas com vinho
Bastarão p`ra meu sustento

Noto o Inverno chegado
Teu corpo num arrepio
Por muito, muito gelado
Comigo não terás frio



Contradição
Há em ti um coração que afirma
O que a boca desmente
Há em ti um corpo que atrai
O que a inteligência não consente
Há em ti um olhar que ilumina
O que os gestos apagam
Há em ti um ser e não ser,
Um querer e não querer
Que se esmagam
Como se houvesse
Um tempo de morte e um tempo de vida
No tempo que passa.
Como se se pudesse
Opor constantemente a felicidade à desgraça.
Concedo que o sim e o não
São uma constante da vida.
Mas nunca como se o não
Fosse a positiva realização
E o sim
Plenamente negativo.
Errado! Há um tempo intuitivo
Para o sim e para o não.
Sê fiel a ti própria
Em uníssono com o coração

(Maio – 1983)



CONTRADIÇÕES …
Acordei pensando em ti
Talvez porque adormeci
Para te esquecer.
Interessante!
És uma excitação que me acalma
És para mim
Um calmante que faz tremer
Um prazer que me enfurece
Uma felicidade que me desassossega
Uma tristeza que me alegra
Uma alegria que me entristece.
Receio ver-te e encontrar-te
E minto
Se disser que não sou feliz
Quando nos encontramos
E te sinto...!
Mas, como dizia anteriormente,
Se temos que arrastar constantemente
Esta angustiante contradição,
Que o negativo (que é pesado!)
Seja pelo positivo sobrenadado
(Como o óleo sobrenada a água)
E eu sinta a alegria de ver-te
Sem ter a angústia de perder-te
Feliz, realizado,
Sem esta mágoa…

(23.06.1983)




DESEJO

Tenho um desejo tão louco

Desde o dia em que te vi
Que só desejo, não desejes
Saber … nem um pouco!
O desejo que senti

Surgiu sem ser desejado
Esse desejo malvado!
P`ra torturar-me sem pejo!

Sabes? Já começo a desejar
Nunca mais ter um desejo

Janeiro 2003



DESEJO-TE TODA!
Gosto de ti, toda!
Integral, completa!
Da cabeça aos pés, dos pés à cabeça

E, talvez por isso aconteça
Desejar fundir-me em ti, em ti fluir.
Perturba-se de tal modo meu sentir
Que, do meu corpo, em delírio tal
Não sei onde ele acaba e o teu começa …
E, por incrível que pareça
Quando me cinjo a ti
Não há um músculo, um nervo sensorial,
Que não se agite do seu letárgico estado
Desde o cabelo alado
Às unhas dos pés que crescem!
Todos os sentidos vibram, estremecem
Alastra em mim um desejo tal
Que perco a noção de quem sou, de quem tu és
Atingido, do Cupido, pela infalível seta

Dos pés à cabeça, da cabeça aos pés
Desejo-te toda
Integral, completa

Dez. 2007



E L E
Avistava-te ao fim da tarde junto ao Mar
Pés molhados, fitando o horizonte sem fim
Alguém te perguntava em que pensavas
Ao admirar tal beleza
Nele! Dizias.
E eu pensava: Em mim,
Pois com certeza!

Via-te de manhã pelo Mercado
A comprar hortaliça, nabos com a rama
Alguém te perguntava quem apreciava
Nutriente tão saudável
Ele! Dizias.
E eu pensava: Muito me ama,
Simplesmente admirável!

Cruzava-me contigo na Junqueira
Olhando, apática, um objecto dourado
Alguém te perguntava para quem seria,
Que merecesse peça tão valiosa
Para ele! Dizias.
E eu pensava: Sou um felizardo,
Oh! Que generosa!

Por vezes, à tarde no Museu
A avaliar desinteressada um bom desenho
Alguém te perguntava a quem darias
Painel, assim, cheio de vida
A ele! Dizias.
E eu pensava: Que sorte tenho,
Oh! É tão querida!

Chorosa, te observei no Cemitério
Alguém te perguntou quem por teu mal
Faleceu, se haveria já partido
Foi ele! Disseste.
E eu pensei: Eu?! (Ah! … havia outro afinal!)
Injustiças da vida: Morto ou preterido!


Póvoa de Varzim 16.04.2011



Galiza Mar
Extasio-me …
(Melancolia que me deu!)
Perante este mar que é nosso
Teu e meu
Que vem dos confins da Finisterra
De Mugardos, de Ferrol
Que me reflecte a luz do teu sol
Que molha teus pés
E me traz teu odor
Com este sal de mar
Que me adoça as marés
Saliniza e retempera o paladar
Da vida, do amor!

Peixes, mariscos,
Que no teu mar se alimentam
E aqui me comprazem, me sustentam
Ah! Aragem, que irrompe Ibéria fora
Estupidamente dividida, por meu mal
Hoje, como outrora
Ex temporal
Que, harmoniosa, poderia
Unida ser
Como tu e eu, neste bem-querer
Peixe, sal, bruma, maresia


Póvoa de Varzim, Fevereiro de 2008


GOTA DE ORVALHO
Recebi tua mensagem!
Foi como gota de orvalho
Refrescando a sequiosa saudade
De ti
Ouvi tua voz, falando para mim
Foi um encurtar da distância
Que nos separa fisicamente
Pois continuas em mim presente
Qual magia!
E peço a Deus, não deixe quebrar
Este elo que nos uniu e aproximou
Feito de desilusões,
Fracassos, incompreensões
Que faz de nós um do ouro confidente
É o mesmo
Que unidos nos manterá através da distância
Convictamente

E esta, mesmo, encurtará
Brevemente
Tornando mais suave e doce
Esta sede de um beijo
Esta ânsia de te ver
E ter
De me dar
Que desejo!
Na contingência de por ti esperar





INTRUSO
A loucura bateu-me à porta
Na impertinência de um cobrador de imposto
E eu abri
E ela entrou
E então nunca mais compreendi
Porque cá estou
Num mundo, para mim, tão a contra-gosto
Numa letargia de lucidez quase morta

Jesus Cristo terá dito:
O meu reino não é deste mundo
E eu,
Compungido
Pesando, embora, minha condição de ateu
Sinto algo muito parecido.
Que faço eu aqui, neste lixo imundo?
Vivendo errante, como um proscrito?

Esta sociedade já não é de todo a minha
Horroriza-me a insensatez do seu rumar
Que fazer
Se fugir
Não é via que me preze percorrer
Nem tampouco saberia para onde ir
Enlouqueço, sabendo que tenho de ficar
Receando a lucidez que outrora tinha

Assim, bendigo a loucura que me invade
E me permite navegar em águas adversas
Apaticamente
Sem dor
Ignorando até que estou demente
Transpondo, porém, cada momento no temor
De que meu grito denuncie nas conversas
O intruso que sou nesta sociedade





Neuza
À Neusa (pintora) Julho de 2003
Tu és cor! e vice-versa
Numa absorção recíproca, devoradora
Algo perversa,
Em apoteose!
Não imagino as cores sem ti
Nem tu sem elas
Nos círculos, torsos e janelas
Numa poética e quase perfeita simbiose
És “maestra” das cores!
Nas pautas das sinfonias que compões
Há notas coloridas da tua simplicidade,
Dor de distância, que reges com batuta de saudade
Melodias em pinceladas de amores,
Do teu cio, dos teus orgasmos de paixões

Do rubro que depois descoloriu.

Venceste a “inventabilidade” das cores
No interior do ventre desamado que te gerou e pariu

Cores que também “desinventas”
Que não dominas
Porque te escapam, rebeldes
À tonalidade que tentas.
Que se afirmam pela alquimia,
Pela física da textura caprichosa do seu ser
Cores com que o poeta desejava

Pintar as palavras, a sua rima,
E assim visualizar o seu delírio, o desespero, a alegria
O amor por ti e por elas
Ah! paixão minha que se anima !
E no entanto,
De cores revestiste o desencanto
Do torso anímico que quase amei
Colorida dor do desalento

Da tela que és e sei

Para além do quadro que se avista.

Na tua azul modéstia de artista
És parturiente das cores
Filhas tuas, que adoptas,
Que expões
Na galeria da nossa intimidade
E pela eternidade do tempo
Expoente máximo das nossas emoções
Pintura de sonho, de alegria,
Por ela, amada serás também um dia
Poemas de verbos sofrer e amar
Que farão a tua eternidade
Pincelados em traços paralelos
Com Monet, van Gogh, Malhoa e Pomar




NOTAS
Notas?
Notas um bocadinho, … eu sei.
Que hoje te tocarei
Acordes em tom de MI
O fado só para ti
Na fé de que o SOL,
Também ele surgirá
Quiçá na vertente do bemol
Se não na melodia,
Então na tua alma.

Anseio, eternizada um dia
Essa calma
Que o teu olhar me dá
Espera/desespero, em SI, menor
Pois, o DÓ maior,
Se o houver, será no fim,
Muito para além do 

Notas dolentes de ouvir,
Choro de guitarra. Assim,
Dolores do meu sentir
A saudade será tua
Num fado que é de mim
Melopeia sustenida e nua
Tão nua quanto te amei.
Notas?
Notas um bocadinho, … eu sei.

Póvoa de Varzim 2009
PEDISTE-ME POESIA
Pediste-me poesia
Sou um homem já cansado!
Tentei dar-te essa alegria
Mas a pena que escrevia
Fez dos meus versos um fado

A guitarra, que ali estava
Em presença e companhia
No seu gemer me chamava
Nestes versos me inspirava
Pediste-me poesia…

Queria falar-te da vida
De amores tão ansiado
Mas quanto mais escrevia
Mais no fundo, eu sentia
Sou um homem já cansado

Já pouco tenho a dizer
E no esforço que fazia
Duvidei do meu poder.
Mas, no desespero do querer
Tentei dar-te essa alegria

Descrever meus sentimentos
O que sonho noite e dia
Ou mesmo neste momento…
Não os revelar ao vento
Mas à pena que escrevia

À guitarra ali presente
Implorei já desolado
Que me inspirasse somente.
Quando tentei novamente
Fez dos meus versos um fado

Dezembro de 2010



Pediste-me um poema
Como quem mendiga uma dádiva, um carinho
Um dia, fá-lo-ei. Prometo!

Tal como um teorema
(Que precisa demonstrar-se para ser evidente)
Fá-lo-ei. Não sintético, suavidade de seda,
Mas rústico talvez, natural, como o linho
Dolente.
Fugidio como o teu ser,
Volátil como a tua inconstância
E que tanto me rala!
Um poema feito de palavras (latim talvez prosaico)
Mas cheias da imensa ternura que de ti exala.
Pediste-me um poema
(A um laico!)
Tal como a Amália pediu lágrimas para além do fim.
Um dia, fá-lo-ei. Prometo!
E procurarei dar nele o melhor de mim
Palavras simples, certamente,
Mas reveladoras de apreço e amizade
Um poema à poetisa das cores
Uma janela, reposteiro de carências
Aberta, não para o Sul, mas para o infinito de ti
Da tua sensibilidade
Um poema à artista, à mulher que em ti senti
Empedernida menina de além Marão
Francezinha, com molho fino de cidade
Numa áurea perfumada de essências
Vivendo em corda bamba
A tropeços na saudade
Sentir de fado, em ritmo de samba
E, se como diz o Principezinho, for verdade:
Tornamo-nos responsáveis pelo que cativamos
Tentarei redimir-me
Oferecendo-te, digamos,
Uma poesia de arminho
Sendo que, diria,
A tua pessoa não se esgota num verseto.

Pediste-me um poema
Como quem implora uma dádiva, um carinho
Um dia, fá-lo-ei. Prometo! … Prometo!

Neusa (pintora) 26 de Janeiro 2006
Janeiro 2006
PESADELO
Pedi que te desses nua
Mulher! Com calor e cheiro
Que te desse por inteiro
Alma e corpo, formosura!
Só quis entrega, ternura
Que te desses toda. Nua!
Mulher! Com calor e cheiro

Mas, numa atitude bem tua
Com um pontapé no traseiro
Vi-me no meio da rua
Na frigidez de Janeiro
Aos raios pálidos da lua
Frio medonho! Regelo!
Agarrei-me ao travesseiro
Ah! Foi só um sonho,
Um pesadelo.

Ora, com sensatez
Do sonho para a realidade:
Não foi naquele Janeiro?
Será num Março ou num Fevereiro
Ou num outro qualquer mês.
Verdade?
E, chegado esse momento …
Um apelo derradeiro:

Só queria entrega, ternura
Que te desses toda. Nua!
Mulher! Com calor e cheiro
Janeiro 2006
POVO SOFREDOR

Que mal fiz eu ao mundo

Para nascer português?
Povo amaldiçoado,
Não sei por quem, nem porquê!
Tem a maldição da saudade
Que ele ama e detesta
Que é para a alma uma festa
Mas que nem sabe o que é.
Fez-se aos mares, ao mundo
Qual aventureiro, vagabundo!
Porque nunca está bem onde está
E com persistência
Quer encontrar o porquê,
A verdade de si, que não encontra lá
Nem cá
A sua razão da existência

Tem saudades do passado,
Sem saber exactamente de quê
Ou de quem
Talvez de alguém
Que nunca tenha conhecido
Ou de algo que nunca tenha ocorrido
Lamenta-se, chora, é deprimido
Sofre tanto, tanto, tanto
Que se afoga nesse pranto
Desfalece num gemido
E é feliz por pensar, que afinal


É um bem, esta “redimente” sensação
De expurgar não sabe que pecado

Tem saudades do presente,
Um maldição que à alma se agarra
Que assume como um fado
Fatal !
Fibras de cordas de guitarra
Chora por tudo e por nada
E, curioso, não vê nisso nenhum mal

Tem saudades do futuro que vier,
Da vivência maravilhosa
Com aquele, aquela
Que ainda há-de conhecer
“Se Deus quiser” !
Quem mo diz, de voz ou em prosa …
Que masoquismo é este?
Curtir a dor e assim perecer
Sob este jugo
Povo, povo, que mal fizeste
Para teres tanto sofrer?
Amaldiçoado até à raiz
E, apesar de tudo...apesar de tudo
Um povo feliz!

Ah!, quanto eu quisera sofrer menos
Este mal, esta desdita,
Esta sina tão maldita!


Dezembro 2002
Com a Primavera
Morre o frio, a tempestade
Também a agudez do vento,
A nudez das árvores
E morre o medo dos velhos
De morrer com a idade
Pois, com a Primavera
Sentem um novo alento

No coração
(Dos que amam a vida)
Nasce com a Primavera
A esperança
Com ela, nasce um sol que amansa
A hibernosa irritação
Com sacrifício contida

Com ela, a Primavera,
Nascem as flores,
Cantam os passarinhos
(não sei se cantigas de amor
Porque constroem seus ninhos,
Se por nos verem com ar mais radioso)

É uma estação tão bela!
Tempo tão ditoso!






Quem muito jura …
Juraria,
Se jurar não fosse feio
Que, como nunca, adorava que o sol
Na aurora, me encontrasse no resguardo do lençol
No aconchego dos teus braços, do teu seio

Juraria,
Se o jurar fosse erudito
Que foi por não me teres ainda cativado
Que, tal como me têm pintado
Fui de quando em vez um “D. Juanito”

Juraria,
Se me fizessem tais pedidos
Que nunca minhas mãos, meus dedos
Debaixo da tua “echarpe” … segredos!
Falaram tanto dos sentidos

Juraria,
Se não fosse tal banal
Que nunca beijos tão doces
Por muito terna que tu fosses
Me fizeram tanto mal

Juraria,
NÃO! Juro mesmo, de verdade!
Que agora não quero gostar de ti
Que não sei quem és, nunca te vi.
Não mais te quero ver, nem ter saudade

JURO! JURO! JUUUUURO!!!
Mas, porque estou eu a gritar?
Como um qualquer tarado
Como um possesso, um demente!
Lá diz o velho ditado:
“Quem muito jura, muito mente”


Mannheim 24.11.0078



Quem sabe …
Se uma criança nasce para a felicidade
Se nasce para uma vida torturada?
Muita coisa se sonha, quanta dela errada
Porque neste mundo … quem sabe?

Pode ser rica, inteligente, ou até quem sabe
Ter amores, ser amada e bem feliz
Porque o seu destino caprichosamente o quis!
Se uma criança nasce para a felicidade.

Porém, coitada dela se durante a caminhada
Da sua longa vida tudo é negativo
Se encontra na morte o fim do seu cativo
Se nasce para uma vida torturada!

Também pode repartir a caminhada
Alternando o mau viver com viver bem
Mas quem sabe o que a espera mais além?
Muita coisa se sonha, quanta dela errada!

Uma coisa, sim, parece realidade:
Gozar ou sofrer, nada perdura
Só existe a paz para além da sepultura
Porque neste mundo … quem sabe ?



Trilogia duma paixão
O teu rosto atrai-me
Magneticamente
Mesmo quando tens
(e tens às vezes)
Um olhar tristonho
Mas entretanto,
Abre-se o teu sorriso
E, repentinamente
Ficam os meus sentidos reféns
Como num sonho
Perdidos no teu encanto.
Perco o siso
E tudo se desvanece.
Sobre o lábio superior
Esse teu sinalzinho
Que me acena tentador
E me parece
Uma promessa de carinho
É um marco da tua individualidade
…………..
a tua intelectualidade!
O teu modo comunicativo
Inspira-me
Transporta-me à profundidade
Do teu sentir
Aveludada a tua voz, serena
Segura. Timbre exacto, preciso
Acompanhando o teu sorrir
Na tua boca pequena …
Faz-me perder o juízo!
…………….
O teu corpo excita-me
Desperta-me da dormente indiferença
Em que me revejo
Eclipsa meu receio da incapacidade de amar.
É só de imaginar
Que te beijo
Eis nova alvorada da paixão!
Imaginar possuir-te …Isso então …




VÁCUO
Os meus momentos vazios
Estão cheios de ti
Sendo que fisicamente és nada
És, virtualmente,
A parte complementar de mim.
Uma ausência bem presente
Que amargura o coração
Um nada que me enche
Nos dias de solidão
O vácuo que ocupa o vazio do meu ser
O nada que é tudo
O ser e não ser
...
De enlouquecer!

Janeiro 2003



VESTIDO DAS LETRAS
Depois do “Zé das Letras” à direita
E o nosso olhar cruzou-se extasiado
Recordado …!
Há tanto tempo te não via!
Fixo-me nas letras do vestido que te enfeita
E muito atento…
À (ilegível) prosa ou poesia
Ao teu corpo tão sardento
À maravilha do teu ser, que me deleita
Ao teu sorriso discreto mas aberto
Ao erotismo do teu ombro descoberto.

Mais tarde, na paixão sentida
Em mãos e dedos entrelaçados
E, na crescente inquietude do desejo
Junto à rocha com corações pintados,
Lembras-te? O primeiro beijo!
Com salpicos de salitre, humidade e maresia
Doçura!
Que nos lábios e na alma me perdura
Uma alegria!
Que se tornou constante
E, suponho, partilhada
Brotada desse tanto e quase nada

E agora, tu, distante …
Tão distante quanto desejada!


Frankfurt 09-09-2004
VISITA
Se não te tivesse visitado?....
Oh! teria . . .
Teria, certamente, passado todo dia
A matutar numa felicidade virtual
Em emoções partilhadas
Com uma princesa que inventaria
Habitante de um castelo de fadas
Que eu arquitectava
Com partículas de pó
Em dia de vento
… Nada!

Dançando, talvez, apaticamente e só
Ao som de um “requiem”
No ritmo do abandono, do desalento
Em tom de dó desesperado.
Com sapatos de verniz
Num lodaçal de desapontamento
Infeliz!
Desolado!
Se não te tivesse visitado.



VIVER CONTIGO


Não quero viver
Sem tempo para te ter
Bom dia! Até logo!
Cada hora a repetir:
Não posso estar contigo, tenho de ir!

Não, não quero discussões nem lutas
Nem traições, nem vinganças
Nem amontoar o ensejo
De infantis esperanças
Sabes o que desejo?
Eu digo:
Viver, simplesmente,
Contigo.

Não procuro luxo nem comodidade
Prefiro, aliás, a aldeia à cidade
Não me interessam, já se vê
As promessas publicitárias da T.V.
“ a roupa mais branca”
“a pele mais suave”
“o vídeo mais moderno”
“o brandy mais antigo”
Sabes o que desejo?
Viver, simplesmente,
Contigo

Havemos de ter
Muitas coisas a dizer
Programas a elaborar
Inovações a inventar
O descobrir
De um “eu e tu” por explorar
O hálito, o sorriso, o nosso sentir
Algo muito nosso há-de parir.
E sigo
Desejando viver, simplesmente,
Contigo

(Frankfurt/M, 1983)